domingo, 24 de agosto de 2008

CVP em acção: Parto na Unidade de Socorro da Amadora

Manuela Fernandes teve a ajuda de João Narciso no nascimento do bebé, no banco de um Renault
Manuela Fernandes teve a ajuda de João Narciso
no nascimento do bebé, no banco de um Renault

Amadora: Imigrante senegalesa não esperou pela ambulância

Bebé nasceu num carro na via pública

Do parque de estacionamento onde trabalha, Maria João "nunca tinha visto nada assim." Um carro parou na beira da estrada, um homem saiu disparado em direcção às instalações da Cruz Vermelha Portuguesa, uma equipa de socorristas correu para a viatura. "Pensei que era alguém a ter um enfarte. Quando ouvi ‘Força, força’, é que percebi que era um parto." O bebé, de 3,435 quilos, não esperou para chegar ao Hospital Amadora-Sintra, a cinco minutos, nem à ambulância, a cinco passos. Nasceu na contramão, sem atrapalhar o tráfego, no banco de trás de um Renault 19, na Brandoa, Amadora.

A mulher de 35 anos, imigrante senegalesa, começou com contracções pela manhã. O tio ligou para o 112, às 09h39, mas a ansiedade não o deixou esperar pela chegada dos bombeiros. Pegou nela, no carro e na ansiedade e fez-se ao caminho. A meio, entre a Pontinha e o hospital, o bebé deu sinal de que não estava para esperar mais. O homem viu o símbolo da Cruz Vermelha e pediu ajuda. Foi nesse momento que Manuela Fernandes, a socorrista mais experiente da unidade, pôs mãos à obra. Já fizera 13 partos, mas nenhum na rua. "Fui sem luvas, sem nada, enquanto preparavam o kit de partos e a ambulância." Nem kit, nem ambulância. O bebé nasceu às 10h05. Dez minutos depois de o Renault 19 ter parado, para pedir ajuda, na beira da estrada.

A SOCORRISTA DA MEDALHA DE OURO E DOS 14 PARTOS

Com 23 anos de Cruz Vermelha e uma medalha de ouro por antiguidade, Manuela Fernandes já não sai em serviço. Aos 42 anos, "o corpo ressente-se dos turnos" e a missão passou a ser coordenar as operações. Se a socorrista não sai em serviço, o serviço sai para vir ter com ela. "Parece que a criança veio ter com a Manuela. Olha lá, ouvi dizer que já fizeste 13 partos...", brinca o comandante, Armando Baptista. Ontem, o nascimento era a notícia do dia. E Manuela a personagem principal. Chamam-lhe a matriarca. Ouve os elogios, sorri para dentro e fala no orgulho que tem na Cruz Vermelha e nas crianças que ajudou a nascer. "Durante o parto, estamos nervosos, não sabemos se o bebé nasce perfeito, se o cordão se enrola. Mas depois é uma grande alegria."

APONTAMENTOS

BEM NO HOSPITAL

A mãe e o rapaz (o segundo filho) estão no Amadora-Sintra.

AJUDA

Os Bombeiros Voluntários da Amadora recusaram-se a dizer quanto tempo demoraram a chegar.

SEGURANÇA

Os socorristas lembram que é mais seguro esperar pela chegada do socorro do que transportar grávidas ou doentes.

Rute Araújo
in.: www.correiomanha.pt

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