quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

CVP em acção: Temporal na Madeira. Intervenção CVP Madeira V. O trabalho dos seus voluntários!




De porta em porta a chamar pelos moradores, à procura de saber se estão em casa, se estão bem, se precisam de alguma ajuda, de um simples desabafo. É este o trabalho que têm feito vários voluntários e ex-voluntários da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), por várias zonas afectadas pelo temporal de sábado passado.
O DIÁRIO acompanhou uma equipa de seis pessoas que se 'fizeram à frente', no sentido de darem qualquer apoio nestas horas e dias pós-destruição e pânico, que muitas famílias viveram. Ainda que haja muito por fazer na procura de desaparecidos e na reconstrução das casas e infra-estruturas, este trabalho toca o lado emocional do drama que a Madeira vive.
Na freguesia do Monte, entre as Babosas e a Corujeira de Dentro, o jipe Land Rover da CVP na Madeira calcorreou as estradas enlameadas, por entre vários cenários de derrocadas e destruição de bens, atravessando toda aquela zona do Funchal, debaixo de chuva e 'cercados' pelo intenso nevoeiro que ontem se fez sentir nas partes altas da cidade.
Liderados por Samuel Aguiar, os ex-voluntários deixaram os seus afazeres profissionais para ajudar as pessoas, pelo caminho uma outra 'brigada' de apoio terminava o 'turno' numa zona abaixo do Largo das Babosas. Uma rápida troca de palavras e seguem caminho para aquele largo onde, desde a primeira hora, o Padre Giselo Andrade coordena e ajuda na limpeza do largo e remoção do pouco que sobrou da capela.
De facto, olhando para os destroços - algumas partes da cerca em ferro, azulejos, partes da estrutura em madeira e outros utensílios - é difícil imaginar o que fez para deitar abaixo um edifício que já passara por tantos temporais. Enquanto uma máquina escavadora remove os destroços, os jovens escuteiros da Paróquia do Monte vão trazendo o que sobrou, certos que será preciso levantar tudo de novo.
Os voluntários da Cruz Vermelha perguntam ao pároco se precisa de ajuda, se as pessoas na zona precisam de algum apoio. Nesse momento, a única possível é água para os jovens. No meio de tanta água que por aí caiu e que ainda na tarde de ontem dificultava ainda mais o labor destes jovens, uma garrafa de água fresca veio mesmo a calhar.
"Trouxeram uma máquina pesada, o que nos veio facilitar a vida", conta o Padre à equipa da CVP. "Já não podíamos com os braços de tanto acartar rocha. Ainda assim recuperamos o crucifixo, a imagem principal, algumas partes do altar-mor, de resto foi tudo abaixo. A força da água trouxe pedras, árvores e terra, com certeza veio de muito longe e levou tudo, casas e carros, só ficou um aqui.".
Uma coisa é certa, vai ser mesmo reconstruída a capela e o que sobrou vai ajudar a terem uma ideia. Mas não só: "Temos fotografias, que também podem ajudar a fazer tudo como era dantes, para termos uma ideia. Para já é só limpar e tirar o maior número de terra possível".

Receio por sexta-feira...

De novo no carro e de volta à estrada íngreme, descemos um pouco mais. Apeados, descemos uma vereda que vai ter a um punhado de casais, enfiados quase dentro da ribeira agora totalmente descaracterizada. A um 'palmo' de uma das casas esta arrasou e, certamente, levou muito detrito para as ribeiras principais do Funchal.
Aqui, somos recebidos por uma cão, chama-se pelos moradores, bate-se à porta. Aparece uma criança que, depois, chama o dono da casa, o senhor Álvaro Agrela. Motorista de turismo, está desde então em casa sem poder trabalhar, mas a esposa teve que ir, apesar de abalada com todo o ocorrido.
É num ápice que conta o que a família viveu, apesar de não estar em casa quando aconteceu o pior: "Não perdemos nada, nem precisamos de roupa ou comida, graças a Deus. A enxurrada levou uns poios que tinha aqui, aponta em direcção à beira da ribeira".
Para este funchalense, para já nem a chuva miúda nem o nevoeiro denso que continuam na zona o assustam. "Dizem que a partir de sexta-feira vai piorar o tempo e, se calhar vamos ter que sair daqui para ir para a sede dos escuteiros do Monte", conta. Fala dos vizinhos, garante que não está ninguém em casa e está certo que, depois do susto há que retomar a normalidade. Se estivesse bom tempo, era mais fácil, agora assim com está..." Depois de assegurado que tudo está bem, seguimos para a Corujeira de Dentro, visitamos o Beco das Eiras. Ali o mesmo ambiente de aparente calma, 'recebidos' pelos cães, parece uma localidade fantasma, não se vê ninguém na rua. Resta contemplar a força destruidora da natureza e seguir rumo a novo poiso, quiçá onde será preciso animar mais alguém perturbado por tanta tragédia. O serviço à comunidade continua e continuará todos os dias até 'sarar' as feridas.

Alertas desde a primeira hora e relato de salvamentos

Samuel Aguiar foi testemunha interveniente do drama que viveu uma família (pai, mãe e filha), quando o seu carro foi arrastado estrada abaixo na zona do Galeão, na freguesia de São Roque (Funchal). A muito custo e correndo o risco da própria vida, conseguiu cumprir com os objectivos da Cruz Vermelha Portuguesa de servir o próximo.
Naquela manhã, "fomos fazer um ponto de situação, mas não conseguíamos passar, havia gente a gritar e a chamar para ajudar aquela família", conta. Acto contínuo, sai do Land Rover e entra pela lama adentro, recebe a bebé das mãos do pai e encaminha-os para local seguro. "Tirei a lama da cara à bebé, tirei-lhe a roupa toda suja e vesti-lhe um dos casacões que usamos, entramos no carro e levei-os para o Hospital".
Aquela família contou com a ajuda no momento certo, depois do seu carro ter sido arrastado pelas ruas, quando tentavam subir, tendo sido surpreendidos pela enxurrada que descia ladeira abaixo.
E não parou. Logo que pôde pôs-se à estrada, rumo ao Monte. Nas Babosas encontrou um cenário de caos, já com os bombeiros a tentar ajudar uma mulher, chamados pelas vizinhas que apontavam para a casa ao fundo e mesmo abaixo do Largo das Babosas, já cheia de lama.
"Vasculhamos no meio do lamaçal e não conseguíamos ver nada", lembra. "Depois, os bombeiros lá conseguiram dar com a senhora atolada na lama, retiraram-na e levamo-la então para uma casa ao lado onde demo-lhe um banho. Chamamos a ambulância para a levar ao Hospital".
Desde então, tem sido num corrupio de entradas e saídas da sede da Cruz Vermelha, uma "luta até hoje" e que promete continuar enquanto for preciso. Naquele preciso momento em que Samuel Aguiar falava para o DIÁRIO já preparava para se pôr a caminho, para mais uma missão de apoio. O emocional é o mais invisível, não gera grandes fotografias, mas reconforta os corações mais aflitos. "Temos de fazer um pedacinho de cada, tanto a ajudar as pessoas da Zona Velha como os das Zonas Altas do Funchal, seja nas outras zonas onde podemos, chegar fora da capital", garante. "Às vezes basta ouvir um pequeno desabafo, perguntar-lhes se estão bem, dar um sorriso, uma palavra de alento".


In Diário de Noticias

3 comentários:

kika disse...

um bem haja a todos os voluntarios da Delegaçao da Madeira pelo esforço que tem mostrado no apoio as vitimas do pesadelo que passou pla madeira...apesar das circunstancias tem mostrado a toda a gente que ainda aqui estamos para o que der e vier...
Agora deixo uma questao...sera que o sr Presidente Nacional ja ligou para a Madeira a dar nas orelhas ao Sr Coordenador, por ainda usarem a NOSSA farda!!??

Alex disse...

Fardas a parte,o que importa e é meritório,é o trblho desenvolvido.
Bem hajam,companheiros.

Anónimo disse...

Passou-se pouco mais de uma semana, uma semana bem diferente pelas piores razões…
Uma semana com noites mal dormidas, dias repletos de momentos fortes! Algumas derrotas, mas contamos felizmente com muitas vitórias, que nos enchia de força para continuarmos e nunca por nada baixarmos os braços.
Foram imensas as chamadas de urgência pré-hospitalar a que corremos, vidas que estavam no balanço, momentos de imensa carga emocional ao que respondemos com entrega total e com o melhor de nós.
Uma semana em que por vezes deixamos cair aquela lágrima de tristeza e de revolta, mas que infelizmente faz parte de momentos como estes, e porque acima de tudo somos humanos…
Compramos sorrisos também, e a troco de nada, oferecemos esses sorrisos a quem mais precisava!
Distribuímos palavras, palavras de esperança e força de viver, porque enquanto um de nós por cá andar, esperança essa nunca há-de acabar!
Se já antes éramos uma família, estes dias difíceis só vieram reforçar esses laços…
Muito fizemos, mas muito temos ainda por fazer, e obviamente não vamos deixar esse trabalho por mãos alheias, seguindo sempre o nosso lema “Salvar e Servir”.
Bem hajam companheiros da CVP – Cruz Vermelha Portuguesa – Madeira